quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Faculdade de saúde privada: Falta de qualidade, livre concorrência ou caso de polícia?




Muito se fala sobre a relação de qualidade entre instituições de ensino superiores privadas e públicas. A qualidade é um parâmetro extremamente relativo, o que devemos considerar: uma infraestrutura excepcional ou um corpo docente composto quase que totalmente por mestres e doutores? Esse é apenas um exemplo (na maioria das vezes) das diferenças entre as IES privadas e públicas, respectivamente. É certo que sozinhas (a infraestrutura e o copo docente) não serão capazes de transformar alunos em futuros profissionais de sucesso, mas cada uma delas possuem um peso importante na formação profissional.
É importante ressaltar que existem vários profissionais de renome formados em instituições públicas e privadas, isso só reafirma que todos os profissionais formados têm as mesmas chances no mercado de trabalho, independentemente de onde sua formação ocorreu.
Poderemos considerar como um ponto polêmico o desenfreado crescimento de IES privadas ofertando cursos de saúde por mensalidades baixas. É de se questionar se este tipo de faculdade estará preparada para oferecer um ensino, serviço e infraestrutura condizente com as exigências do curso da área da saúde. O curso de Fisioterapia, por exemplo, é um dos quais se exige maior infraestrutura para a sua realização, visto que necessitamos de laboratórios, clínica-escola com ginásios para exercícios e piscina aquecida, equipamentos sofisticados para o atendimento fisioterapêutico e ainda, muitas vezes, de um hospital-escola para a prática nos vários setores do mesmo. Será que este valor de mensalidade, será suficiente para cobrir e/ou manter essa estrutura?
Da mesma forma ocorre com as universidades públicas, muitas vezes sucateadas, com laboratórios antigos, equipamentos quebrados e uma gama de outros problemas que comprometem a prática do alunado junto aos serviços. É importante que os governantes também invistam nas IES publicas, assim como em pesquisas, profissionais e equipamentos de melhor qualidade para viabilizar um melhor aprendizado aos acadêmicos.
Além das inúmeras faculdades que abrem por ano, jogando no mercado de trabalho centenas de novos profissionais, outro item que chama a atenção são os cursos que têm 20% da carga horária semipresencial, tudo isso com autorização do MEC, por meio da Portaria 4.059, de 10-12-04. Porém fica a pergunta: É possível um profissional atender as expectativas do mercado de trabalho tendo como base uma formação à distância?
Muitos alunos são iludidos com a idéia de uma faculdade com custos baixos, aulas semipresenciais e curto tempo de duração do curso, porém há um preço a se pagar posteriormente: a falta de experiência, vivência e pouca aceitabilidade por parte do mercado de trabalho; tendo como fim o inverso daquilo que foi planejado, fazendo do investimento um verdadeiro desperdício de dinheiro e tempo, e tornando o recém-formado um profissional ressentido e propenso a praticar a profissão de qualquer jeito, sem preocupar-se com seus honorários e muitas vezes com as questões éticas inerentes à mesma.
No curso de Fisioterapia, por exemplo, o aluno é bombardeado por uma série de disciplinas, que abordam desde as fisiopatologias das diversas doenças passando pelos exames diagnósticos até o tratamento fisioterapêutico por meio de inúmeros métodos e técnicas específicas. Ao mesmo tempo, é fundamental que este aluno já esteja familiarizado com a parte prática, seja em atendimentos hospitalares, clinicas e/ou na comunidade, sendo em formato de atividades supervisionadas pelos professores. Como aliar a teoria à prática quando o curso é semipresencial e durante o turno da noite? Como formar um profissional fisioterapeuta, que habitualmente mantêm uma relação de toque com o paciente, nessas circunstâncias? Como investir em corpo docente gabaritado e infraestrutura adequada quando se cobra mensalidade de trezentos reais?
Todas as questões devem ser consideradas e analisadas de maneira detalhada, levando em conta não apenas o custo da mensalidade ou o tempo de curso, mas sim o que um curso de qualidade poderá trazer de benefício para sua qualificação e o quanto ele poderá ser importante no seu futuro como profissional e na melhoria da sua profissão, pois não imagine que a profissão está nas mãos dos conselhos de classe ou entidades representativas, a sua profissão está em suas mãos. Como já dissemos, a IES é importante na formação do profissional, mas ela sozinha não é capaz de construir um profissional brilhante, mas pode ser responsável por formar o pior dos fisioterapeutas.
O que não é possível admitir é que usem a área da saúde para enriquecer a custa de pessoas desesperadas à procura de um diploma de ensino superior. O MEC poderia mudar as regras e possibilitar que os conselhos de classe opinassem na aberta ou fechamento de cursos, assim, existiria maior fiscalização e atenção a essa questão. Limitando que o mercado de trabalho se tornasse mais saturado e com profissionais despreparados e prontos para aceitar qualquer valor em troca do seu serviço, pondo um fim ao um ciclo vicioso.


Dr. Fabricio Lopes Conduta


Especialista em Fisioterapia Hospitalar
Membro efetivo da Liga sem Dor de Curitiba
Associado a Neurotrauma Brasil
Integrante da Neurorede (Rede Social Colaboratica de Neurociências)
Presidente da Sociedade de Fisioterapia Hospitalar




Supervisão de texto: Luan César Simões

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João Pessoa, Paraíba, Brazil
Mestre em Fisioterapia pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE; Especialista em Fisioterapia Cardiorespiratoria; Graduado pelo Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ. Atualmente é professor universitário, foi fisioterapeuta do Centro de Reabilitação da cidade de Araruna - PB e é Delegado do Conselho de Fisioterapia e Terapia Ocupacional - Regional 1 na Paraíba. Trabalhou no Núcleo de Acolhida Especial do estado da Paraíba pela SEDH e foi pesquisador voluntário de grupos de pesquisa e estudos em saúde na Universidade Federal da Paraíba - UFPB.

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